Os benefícios da curiosidade
Independentemente da geração que somos ou da experiência que acumulamos até aqui, há uma certeza presente nas nossas vidas: todos nós nascemos com o dom da curiosidade!
Essa é uma das características que nos permitiu aprender a falar, a andar, a explorar o universo ao nosso redor, a inventar e transformar coisas, acertando, errando, aprendendo e crescendo.
Entretanto, ao longo da vida, há algo em torno de nós que cria uma barreira e sufoca esse dom, que nos rouba a naturalidade de buscar o desconhecido, de testar coisas novas a cada dia e de nos mostrar vulneráveis diante de situações “perigosamente” desconhecidas, especialmente no ambiente das organizações.
Nesse universo, os líderes assumem uma função muito importante mas também muito desafiadora, de criar um ambiente que valorize a curiosidade e canalize a energia gerada por ela para inovação, para a aprendizagem coletiva e para a motivação trazida ao vencer as barreiras da mesmice.
Estudos mostram que são muitos os benefícios da curiosidade para o indivíduo e para as organizações. Ela tem o potencial para aumentar nossa inteligência, a perseverança, a determinação e nos impulsiona para um engajamento mais profundo, um desempenho superior e objetivos mais significativos2.
Parece simples, não? – Não!
Um estudo realizado pela cientista comportamental Francesca Gino1, com mais de 3.000 funcionários de uma ampla gama de empresas e indústrias, constatou que apesar de 92% acreditarem ser pessoas curiosas, capazes de trazer novas ideias e entenderem que a curiosidade é um catalisador para a motivação, inovação e alto desempenho, apenas cerca de 24% sentiam-se curiosos em seus trabalhos regularmente e cerca de 70% disseram que enfrentavam barreiras para fazer mais perguntas no trabalho.
O estudo constata que embora os líderes possam dizer que valorizam mentes inquisitivas, eles na verdade, suprimem a curiosidade, temendo aumentar o risco e a ineficiência. Em geral, os líderes buscam eficiência em detrimento à exploração.
Talvez isso ajude a explicar em parte por que nossa curiosidade geralmente diminui. Outro estudo também de Francesca Gino demonstra que essa nossa indisposição corporativa para a curiosidade aumenta, quanto mais tempo estamos em um emprego. Foram ouvidas cerca de 250 pessoas recém contratadas em diversas empresas. Foram feitas perguntas destinadas a medir a curiosidade. Seis meses depois, as mesmas 250 pessoas responderam novamente a pesquisa e o resultado foi de um declínio médio excedendo os 20%.
Os líderes têm um papel fundamental para mudar esse cenário mas, mais do que isso, a cultura organizacional precisa valorizar também essa responsabilidade. O líder também é um ser humano, impactado pelas barreiras geradas pela vida organizacional e pela sombra de expectativas existentes ao seu redor.
Como aprendizado, não deixe que as barreiras da maturidade matem a sua curiosidade. As dificuldades do resgate desse dom não devem ser encaradas como um empecilho e sim, como uma deliciosa reconquista!
1 Francesca Gino, é cientista comporamental e professora de Administração na Harvard Business School e autora dos livros Rebel Talent: Why It Pays To Break The Rules At Work And In Life e Sidetracked: Why Our Decisions Get Derailed, and How We Can Stick to the Plan.
2 Estudos realizados por Todd B. Kashdan; David J. Disabato; Fallon R. Goodman e Carl Naughton
Genilda Saji | Coach e Consultora | Partner na Ommí Treinamento e Desenv. Organizacional